Riobaldo Tatarana
Da rede, todo mundo sabe como é bom, sobretudo quando armada em um amplo terraço, à sombra dos coqueirais. O que pouca gente sabe é a forte influência da rede no pensamento especulativo – fato facilmente comprovável em Casa Caiada. Aqui se encontra a maior concentração de velhos descansando em redes de todo o território nacional, segundo pesquisa recente do IBGE. E é igualmente elevado nosso índice de especulação filosófica. Às vezes fico pensando quão mais longe poderia ter ido a filosofia grega se, em vez da Academia platônica e do Liceu aristotélico, os filósofos tivessem especulado sobre a verdade deitados em redes. Mas isso não passa de mera especulação.
Sobre a BAB, aposto que ninguém sabe o que é. Para afirmar isso, consultei antes, por telefone, várias pessoas O dono do blog – que depois de ter sido tanta coisa na vida, bem poderia ser especialista em siglas –aventou a hipótese de ser o apelido de alguma socialite do eixo Rio-São Paulo (creio que terá entendido “Baby”). Essa sigla, na verdade, tem pouco uso corrente, a não ser nos altos meios militares, e mais raramente entre os colibris do Itamarati, onde é sussurrada em segredo. Nem o Lula, que é bom de sigla, soube dizer o que era, achou que se tratava de uma nova marca de pinga.
Pois bem, BAB quer dizer Bomba Atômica Brasileira – o sonho de ouro de dez em cada dez militares brasileiros das três armas. Argumentam eles, entre muxoxos de impaciência, que se outros países insignificantes – como Israel e Paquistão – puderam ter as suas bombinhas, e assim entrar para o seleto clube atômico, por que não nós? O clube é fechadíssimo, concordo. E cada novo sócio, que antes defendia o livre acesso à energia atômica, logo que se vê com uma tetéia dessas, passa a vociferar com seus vizinhos, arrimado na ameaça de tacar-lhes uma na cabeça.
Eu não gosto de opinar sobre o que não conheço. Por isso, antes de escrever, resolvi consultar um militar amigo, que é autoridade no assunto. Major da reserva da Polícia Militar do Amapá, com cursos de estado-maior e de balística, na PM do Ceará. Trabalhou também, durante anos, tão logo passou para a reserva, como caixeiro-viajante do Laboratório de Cosméticos Divina Dama, e dessa forma pôde aliar a seus amplos conhecimentos estratégicos uma extraordinária experiência do território nacional.
Disse-me ele que infelizmente ainda estamos longe de realizar esse sonho. Caso tivéssemos elegido o Enéas, como ele queria, estaríamos bem próximos. Mas desde Collor – que foi obrigado pelos EUA a enterrar tudo que a gente tinha feito nessa matéria, na Serra do Cachimbo – a coisa só andou para trás. O Itamar não teve tempo. FHC ainda andou pensando em retomar o assunto, mas quando viu que dali não surgiria nenhuma comissão apreciável, e só adviriam desgostos e o desprezo do governo americano – nunca mais seria convidado a visitar a Casa Branca – também deixou para lá. O governo Lula é o único eu defende a bomba... mas para Cuba, que segundo seus próceres, está muito mais precisada. De forma que voltamos à estaca zero.
Meu amigo explicou-me que não é difícil construir a bomba. Basta pegar a receita na Internet, adquirir os componentes na China e montar segundo o croquis. O problema é onde experimentá-la. Nós, ao contrário de Israel e Paquistão, não temos desertos nem povos indefesos em quem testar nossa bombinha. Na Amazônia, nem pensar. Seria mais um pretexto para os americanos quererem invadir e transformar aquilo, como quer a Fernanda Montenegro, em uma nova Flórida. Há os Lençóis Maranhenses, mas a comissão requerida pela família Sarney inviabilizaria essa fase do projeto. De forma que ficamos no mato sem cachorro – nem bomba.
Meu amigo opina que deveríamos, caso cheguemos a construir o ambicionado artefato bélico, experimentá-lo em uma concentração urbana, onde será mais fácil medir os efeitos destrutivos sobre as edificações e a população. Ele pensara em Camocim de São Félix e em Quixeramobim, mas depois de amplos e extenuantes cálculos optou por João Pessoa, capital da Paraíba. Eu pulei na rede. Qual é, cara! Logo na nossa vizinha, senhora inofensiva e pacata?! Mas ele ponderou com argumentos lógicos e frios. Vejamos quais são:
Acha ele que JP seria o ideal devido à sua localização, ponto extremo oriental do país. Segundo, a cidade é mais ou menos inútil, uma vez que toda a atividade fabril e intelectual do Estado se concentra em Campina Grande – para onde seria mudada a capital. Terceiro, a cidade será, de qualquer forma, mais dia, menos dia, destruída por uma tsunami, conforme opinião dos maiores centros de pesquisa espacial do mundo. Quarto, teríamos eliminado a pior rede urbana de esgotos do mundo, inferior à de Assunción. E finalmente seria uma forma de nos livrarmos de um monte de políticos safados.
Acho esses últimos pontos bastante discutíveis. Se fosse para nos livrar dos políticos safados, teríamos de detonar praticamente o país inteiro. Poder-se-ia dizer o mesmo das redes de esgoto urbanas. Quanto aos demais pontos, não tenho opinião formada. Que acham as senhoras e os senhores?
2 comentários:
Olhaqui, Zé Bonitinho
Qual a razão da implicância com a Mui Leal e Altiva Cidade de Felipéia de Nossa Senhora das Neves hoje conhecida como João Pessoa. Terá tudo isso, porventura, o dedo do Prof Ariano? Recolha-se à sua rede em Casa Caiada e pare de falar besteira. Abraço. Hugão
Em tempo:
A Bab que conheci tinha uma b... deixa pra lá. Ela hoje está ainda casada com um milico da reserva. H.
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