quinta-feira, julho 31, 2008

Algemas em cena!



Germano Romero

Diariamente vêem-se cenas deploráveis nos programas policialescos com que as emissoras de TV local decidem nos brindar em plena hora do almoço. Além do impacto visual das imagens em si, o foco se dirige às mais dolorosas entranhas do ser humano. São dramas associados a crimes que envolvem pessoas de qualquer idade, inclusive adolescentes e crianças, invariavelmente de classes sociais marginalizadas e desprotegidas

Ouvindo e lendo recentemente nos jornais, com muita freqüência, o termo "espetacularização", lembrei-me desses casos de polícia televisivos. Curiosamente não é a esses programas sangrentos que o emergente termo vem se aplicando, e sim às prisões de ricos e famosos, coisas nunca dantes vistas por esse imenso Brasil. Aliás, no governo Lula há a impressão de que existe mais corrupção justamente porque "espetacularizaram-na", tirando muita sujeira debaixo do tapete palaciano. E o "start" dessas "espetacularizações" foi dado no governo Collor, não obstante logo caírem novamente em desuso.

Convenhamos que há certa dose de prazer ao ver-se a bendita Polícia Federal agir sem discriminação no pleno exercício de suas investigações, em busca da justiça. Acrescente-se uma pitada de sadismo quando o alvo das diligências são poderosos empresários e inescrupulosos políticos que não têm a menor necessidade de roubar dinheiro público. Fazem por cafajestice, ambição desenfreada e mau caráter, ignorando todos os preceitos e princípios que se presumem aprendidos, ou ao menos escutados nas escolas, faculdades e no abastado convívio doméstico a que tiveram direito. Aí é que aumenta o sabor da "espetacularização".

Mas, tudo ocorre bem diferente dos espetáculos exibidos na TV local, em que humildes delinqüentes, cuspidos da sociedade por injustiça, são algemados e humilhados sem piedade. E com que grosseria os jogam contra a parede, seminus e sem o menor direito à privacidade... Além de expor escancaradamente as suas fisionomias, sem pedir licença ou lhes dar direito ao silêncio, enfiam microfones nas suas caras e os obrigam a confessar crimes que às vezes nem cometeram... Isso, sim, é que é "espetacularização"!

Todavia, jamais se viu um membro de instituição ligada à justiça se arvorar em defesa dessas vítimas diárias das algemas e da "espetacularização". Só porque não usam colarinhos, muito menos brancos. O que já era de se esperar num país em que há crimes "afiançáveis", celas especiais para criminosos doutores, foros privilegiados para quem desvia o dinheiro do povo, etc. E dentre tantos privilégios, como poderia se aceitar que se algemem os poderosos, sobretudo quando se desconfia que está por vir ainda mais sujeira? Mas, cá pra nós, bem que a fama e a riqueza valorizam essas cenas, hein?

terça-feira, julho 29, 2008

Aos meus filhos e amigos


Anco Márcio de Miranda Tavares

Quando eu morrer, não desesperem. Me procurem na chuva. Eu serei o pingo que molha e refresca seus rostos. Quando eu me for, não fiquem tristes. Me procurem na tempestade. Eu serei aquela brisa leve que apenas despenteia seus cabelos. Quando eu já for só lembrança, me procurem na terra. Eu serei aquele grão de areia que junto com mihares, forma a praia.

Quando eu estiver bem longe, mas longe de nunca mais voltar, me procurem na alegria. Eu serei o riso que brota de cada boca, a gargalhada que estala de cada garganta. Quando eu estiver fora, mas fora de uma vez por todas, me procurem numa rosa. Eu serei o perfume que ela exala..

Quado eu desaparecer, não fiquem tristes, nem chorem. Me procurem na noite. Eu serei a alegria que brota do coração de cada bêbado.

Quando eu me apagar para sempre, me procurem no firmamento. Eu serei aquela estrela de luz bem forte, que lhes orientará os passos. Quando eu for apenas lembrança, me procurem na floresta. Eu serei aquela pássaro cantador que acorda primeiro.

Quando eu for apenas um retrato na parede, me busquem no vento. Eu serei aquele brando, de leste, que apenas enxuga o suor dos cansados. Quando eu me for de verdade, não desesperem nem pensem que tudo está perdido.Vocês me acharão nas árvores. Eu serei aquela folha que cai, rodopiando até o chão...

Quando estiverem quase esquecendo de mim, me procurem no trovão. Eu serei o relâmpago que ilumina as trevas. Quando eu for apenas uma doce saudade, me procurem nos cemitérios. Eu serei a doce flor que ornamenta a morte. Quando eu não mais estiver nessa mundo, me busquem no transito. Eu serei o sinal que abre todas as passagens.

Quando eu virar passado, não se descabelem nem chorem. Me busquem nas Maternidades. Eu serei aquele choro inocente de cada bebê que nasce. Quando eu não mais for vivo, me busquem no meu quarto. Eu serei uma lembrança muito viva, sentada ao computador, escrevendo essas bobagens.

Me busquem nas almas das prostitutas, dos drogados, dos bêbedos que todos eles têm em si, um pouco de Deus, me procurem nos prostíbulos que lá estarei no rosto triste de cada um. Me busquem no firmamento. Alguma nuvem, em seu formato, há de lembrar o meu corpo quando vivo.

Eu não queria morrer, nem é tanto por mim, mas pra não causar-lhes dor alguma, tristeza nenhuma, nenhuma busca inútil pelos quatro cantos vazios da vazia casa. Quando eu me for, não desesperem. Eu estarei sempre perto de Deus, e pessoalmente pedirei por vocês.

www.ancomarcio.com

segunda-feira, julho 28, 2008

UM PROFESSOR E O NORDESTE


Clemente Rosas

O Professor Malaquias Batista Filho aposentou-se pela compulsória, mas continuou ajudando os seus alunos. E recebeu, este ano, o título de Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco. Convidado para a cerimônia, não pude comparecer, por motivo de viagem de trabalho. Presto-lhe agora a minha homenagem, por uma vida de dupla dedicação: à pesquisa científica e às questões sociais, nele saudavelmente harmonizadas.

Quis o acaso que, após ler três livros editados pelo IMIP que meu amigo Malaquias escreveu, co-escreveu ou organizou, me caíssem às mãos as memórias de Assis Lemos, o ex-deputado paraibano líder das Ligas Camponesas no nosso Estado. E nelas aparece a figura destemida do então estudante de medicina, à frente de concentrações e atos públicos, denunciando os latifundiários mandantes de crimes contra os camponeses. Malaquias, já naquela época, conciliava atribuições discrepantes: médico em formação, escritor (editorialista do jornal paraibano “A União”) e militante político, movido a puro idealismo. Hoje, ocupando o espaço pioneiro de Josué de Castro e Nelson Chaves, mantém a mesma polivalência, pois que a nutrição é o campo da medicina onde a dimensão política se apresenta com maior intensidade.

Pena que sua extrema discrição tenha impedido, até agora, o reconhecimento social que o seu trabalho merece. É possível mesmo que ele seja mais conhecido no resto do país, ou no exterior, onde participa de conferências científicas, do que no Estado que escolheu para viver, ou na sua terra natal. Aliás, das quatro figuras ilustres que a cidade de Taperoá e a Paraíba deram ao Nordeste, apenas uma conquistou notoriedade: Ariano Suassuna. Ainda restam Manoelito Dantas, engenheiro, pecuarista e teórico dos problemas do Semi-Árido, e Sebastião Simões Filho, químico, pioneiro da COPERBO, companheiro de Rômulo Almeida na montagem do Pólo de Camaçari, e pensador das grandes causas da humanidade. É o registro que me cumpre fazer, neste momento.

Os livros de que falei, publicados pelo Instituto Materno- Infantil Prof. Fernando Figueira – IMIP – “Viabilização do Semi-Árido Nordestino” (Malaquias “et aliis”), “Alimentação e Nutrição no Nordeste do Brasil” (Malaquias e Teresa Cristina Miglioli) e “Sustentabilidade Alimentar do Semi-Árido Brasileiro” (Malaquias sozinho) – estão a merecer comentários. Mas temas tratados com profundidade, mesmo quando polêmicos, nem sempre repercutem entre nós, enquanto afirmações levianas são facilmente endossadas, glosadas ou refutadas – com a mesma superficialidade. Há que esperar por quem se disponha a mergulhar fundo nos textos, e oferecer alguma contribuição séria ao desejável debate de idéias.

Não tenho aqui espaço para tal empreitada, além do que me alinho plenamente com as teses e propostas das obras referidas. Ressalto apenas algumas revelações – verdades antigas ou recentes, mal assimiladas pelas nossas lideranças – que merecem ser incluídas na pauta de discussões sobre o futuro da nossa região.

Para começar com uma novidade, até certo ponto alvissareira, no campo da nutrição “stricto sensu”, consideremos que a desnutrição infantil reduziu-se expressivamente no Nordeste (70%), enquanto a obesidade de adultos, seguindo tendência mundial, marcha para a epidemia (300%). Temos assim um novo problema a enfrentar, confortados com a confirmação de que o desafio da fome deixou de ser matéria de conhecimento científico ou de recursos naturais, e passa a exibir, claramente, a sua feição político-social.

Por outro lado, reconheçamos que a velha lição, vinda de Guimarães Duque, de que não adianta lutar contra a seca (como não se luta contra a neve, nos países frios) e sim conviver com ela, embora não contestada, não se tem traduzido em decisões das nossas autoridades. Talvez porque a receita – abandono da agricultura de subsistência, cultivo de plantas xerófilas, pecuária de pequeno porte – contrarie velhas práticas e ponha em questão obras ambiciosas como a tão falada transposição das águas do São Francisco. Nunca será demais, portanto, revisitá-la, reapresentá-la, proclamá-la, até que entre na cabeça dos nossos tomadores de decisão. Inclusive porque as terras irrigáveis, onde se pode fazer uma agricultura de alta produtividade, não representam mais que 5% do Semi-Árido.

Finalmente, mais uma questão melindrosa, de que se evita até falar, é posta às claras: a “pressão antrópica” sobre as terras secas, e a necessidade de reordenação demográfica, como forma de proporcionar melhores condições de vida aos sertanejos. O Semi-Árido nordestino é o mais populoso do mundo, e continuará pobre, enquanto o for.

Aí estão, portanto, três temas candentes, entre vários cientificamente tratados por Malaquias e seus companheiros, nas edições do IMIP. Minhas reverências a todos. E que sejam lidos e entendidos, como merecem.

quinta-feira, julho 24, 2008

"Muito Prazer, Bananeiras! Sou o Fotógrafo Guy Joseph".


Queridos amigos: antecipadamente agradeço a atenção e, se possível, a divulgação da minha exposição fotográfica, "Muito Prazer, Bananeiras! Sou o Fotógrafo Guy Joseph". A expo será inaugurada no dia 30 de julho, às 17 horas, na agência do Banco do Brasil da cidade de Bananeiras. Você é meu convidado. Abraços. Guy Joseph


Fotógrafo, designer-gráfico e artista plástico, depois de passar dois anos e meio viajando por todo o Estado da Paraíba, Guy Joseph resolveu se mudar para a cidade de Bananeiras. Muitos fatores contribuíram para essa escolha: sossego, maior contato com a natureza, clima agradável, segurança, tudo isso, em uma cidade bonita, limpa e hospitaleira. E, com distâncias parecidas, entre Bananeiras e a Capital, Recife, Natal e Campina Grande.

Há um ano, residindo em Bananeiras, Guy Joseph desenvolve novos projetos e faz da Internet a sua ferramenta de trabalho. Atualmente, fornece fotos sobre a Paraíba, para seremm publicados em livros didáticos da Editora Scipionne, ligada ao Grupo Abril-SP.

Para ser apresentado à cidade de Bananeiras, Guy Joseph foi buscar uma forma inusitada de se apresentar e resolveu montar uma exposição fotográfica, cujo título, é: “Muito Prazer, Bananeiras! Sou o Fotógrafo Guy Joseph”. A expo é composta por vinte fotografias, em cor, focalizando o cotidiano das ruas, a gente e as paisagens de Bananeiras. As fotos, foram ampliadas (25cmX38cm), e montadas em placas de foam-board e estarão expostas no hall de entrada da agência do Banco do Brasil de Bananeiras.

A abertura da exposição, “Muito Prazer Bananeiras! Sou o Fotógrafo Guy Joseph” deverá acontecer às 17 horas, do dia 30 de julho, quando será servido um coquetel, aos convidados.

A exposição de Guy Joseph faz parte da programação paralela do projeto, “Caminhos do Frio”.

UM SONHO AMEAÇADO


Djanira Silva

Nunca hoje a saudade. Ontem. À noite. No silêncio. Nunca hoje a tristeza, ontem ao entardecer. Sempre hoje a procura, o desespero, a vontade de ver de novo.
Nos sons, os pensamentos dispersos, emaranhados nos sinais luminosos de outros mundos. Como encontrar o som de que preciso? Em qual deles reconhecerei tua voz?

Hoje, encontrei um caminho aberto e me perdi das minhas certezas, dos meus medos da falta de coerência. Tanto tempo aqui e não pude, nunca, aprisionar teu som. O pássaro, a gente prende, o canto é livre. O grito solto na escuridão das masmorras desafia o algoz, liberta a dor, desencarcera a alma. Ganhaste o direito de viver. A liberdade te deu asas, livrou tua alma de um corpo estranho. O meu, é a minha prisão onde ainda canto sem saber por quê. A saudade me fez refém, deixou-me em teu lugar.

Aquartelada no silêncio, tento decifrar o que me diz o vento, o vento que assobia assustando as palmeiras. O que dizem as ondas sobreviventes das tempestades, o que me conta o sol, a lua. as estrelas, as noites de agosto, perdidas nas vozes de ventos magoados.
A manhã nasceu escura amortalhando um dia triste. Acabo de ressuscitar. Assim, todas as manhãs. Vou sem saber se voltarei. Perco-me por caminhos estranhos que me contam histórias loucas, histórias minhas, histórias esquecidas.

Nem sei o que fazem estas lembranças aqui. Chegam como ladrões e me assaltam, ferem-me e vão embora prometendo voltar. Ponho minha alma na horizontal para enganar o corpo. Esqueço-me de mim por algum tempo até que o juízo volte. Sinto saudade da minha loucura, do meu pensamento vagabundo sem dono e dono dos espaços, das linhas, das entrelinhas, pensamento que me engana com mentiras que me esconde as verdades e me faz pensar que sou feliz quando, durante a noite, enlouquece e vagabundeia sem controle manipulado pelos sonhos.

Cansei de esperar. O quê? Não sei. Só sei que dentro de mim existe uma sensação de espera de algo que vai chegar, de algo que vai ser revelado, de alguma coisa que me livrará das dúvidas e dos receios. É esta espera que me mantém viva, alerta.

As noites são longas? Não sei. As luzes se apagam logo cedo e quando se reacendem revelam sonhos novos. Loucos? Todos são.

Os dias estão sempre de baioneta em riste. Vá, não vá. Pare, ande. Sonhe, não, não pode sonhar. Luzes se apagam, luzes se acendem nas frestas das portas e das janelas, iluminando o perdão apagando pecados.Um passo atrás do outro. O outro, ah! O outro.

"Zé Bolinho"


Elpídio Navarro

Uma das pessoas importantes que passaram pelo Theatro Santa Roza, foi o maquinista (denominação dada aos operários do palco) Zé Bolinho. Seu nome de batismo - José Xavier da Silva - lembrava Tiradentes. Mas ele, ao contrário, não era mártir nenhum. Era uma figura que não sabia negar nada a ninguém, mas também era um tanto esperto. Das histórias de Zé Bolinho, conheci muitas e estive presente em algumas delas.

Sua fidelidade ao time do Botafogo da cidade de João Pessoa e ao bloco carnavalesco Índios Africanos, do bairro da Torre, era à toda prova. Gastava o dinheiro que pudesse com essas suas paixões.

Num das vezes que estava eu diretor do Theatro Santa Roza, chegou-me a notícias que dos nossos espanadores só restavam os cabos. A plumagem, de pavão, de todos, havia desaparecido. As fofocas atribuíam a responsabilidade ao nosso Zé, que a teria usado nas fantasias dos "caboclinhos". A acusação espalhou-se tanto que me senti na obrigação de chamá-lo para esclarecimentos. Então ele foi taxativo: "Seu Erpídio, os africanos só usam penas de galça..." Mandei providenciar a aquisição de outros espanadores.

Ele adorava época de eleição. Era quando conseguia construir uma casinha lá pros lados de Cruz das Armas, bairro onde residia. Prometia votos a vários políticos em troca de tijolos, cimento, telhas, madeiras e todo o necessário à construção de mais uma das suas fontes de renda: os aluguéis de seus casebres construídos por conta das suas promessas eleitorais. A gente nunca sabia em quem ele iria votar ou havia votado. Sempre afirmava: "o voto é secreto"!

Viajou muitas vezes com os nossos grupos de teatro, como responsável pela cenotécnica. Numa dessas viagens, sob minha direção, fomos a um festival de teatro em Ponta Grossa - Paraná. O espetáculo que levamos ("Cordel", de Orlando Senna) tinha como cenário enormes bandeirolas que deveriam descer do urdimento à cada início de cena. O palco do auditório no qual deveríamos nos apresentar tinha o teto baixo, não podendo assim esconder as tais bandeirolas. Sabedor antecipadamente do problema, o nosso cenógrafo, Breno Mattos, impedido de viajar conosco, preparou um mecanismo que prendia enrolada a bandeira, soltando-a quando fosse acionado. Mas lá, quando nos foi liberado o palco para que montássemos nosso cenário, constatamos que não estava funcionando o tal mecanismo criado por Breno. Já tarde da noite, após várias tentativas, Zé Bolinho prometeu: "pode ir dormir, seu Erpídio. Deixe comigo que eu resolvo tudo... " O espetáculo seria apresentado na manhã do dia seguinte. Ele nem chegou a dormir no hotel, o que me deixou mais apreensivo. Chegando ao teatro fui logo abordado por ele dizendo-me: "pode ficar tranqüilo, ta tudo em ordem". E estava mesmo pois a função aconteceu corretamente, na hora certa. Enquanto eu descia da cabine de controle de iluminação e tentava chegar ao palco, um tanto assediado pelas pessoas da platéia, Zé Bolinho já desmanchara tudo que ele havia feito e encaixotava nosso cenário. Perguntei por que e ele respondeu que não podia deixar os outros aprenderem o seu segredo. Posteriormente me contou: "Fiz um U!" Armou três pedaços de sarrafo formando a letra U. Prendeu a bandeirola enrolada com o tal U, como se fosse um grampo, preso a uma corda, que puxado fazia acontecer seu aparecimento. Simplesmente um U. Mas pediu segredo para o seu invento...

Mas entre outras várias histórias de Zé Bolinho a mais antiga delas, das que participei, foi logo nos meus primeiros momentos de atividade teatral.

O Teatro do Estudante da Paraíba estava encenando a peça Fim de Jornada, cujo entrecho dramático acontecia durante a primeira grande guerra mundial, tendo como personagens soldados ingleses. A direção era de Walter Oliveira e tínhamos como instrutor militar a figura simpática do General Edson Ramalho, na ocasião Comandante da Polícia Militar do Estado da Paraíba. Mas a colaboração decisiva dele não se resumiu apenas às informações de comportamentos dos militares da época, mas, também, à cessão de armas, fardas e equipamentos para compor o espetáculo. Por conta disso tudo nós fizemos uma apresentação para o pessoal da Polícia Militar, com o caráter de homenagem e agradecimento, que redundou na mais desastrada das nossas apresentações daquele espetáculo teatral.

O cenário era uma casamata, espécie de esconderijo subterrâneo camuflado no solo com pedras e arbustos, que escondiam a sua entrada e uma metralhadora antiaérea. A visão do espectador era de um cenário com dois planos: no piso do palco estava a casamata, onde acontecia a maior parte da encenação; num plano elevado, o solo do campo de batalha onde aconteciam cenas de ataques aéreos e revides pela metralhadora. O meu irmão Ednaldo Navarro interpretava uma sentinela que passava quase todo o decorrer do espetáculo no plano elevado, só descendo ao esconderijo na última cena para informar ao nosso comandante, papel desempenhado por Valdez Silva, que eu havia sido metralhado e morto num ataque de um avião alemão que continuava bombardeando lá em cima.

Ao final do espetáculo a casamata era destruída e caía o teto através de um truque feito com dobradiças que eram destravadas. Para dar a impressão de fogo, fumaça e poeira, espalhávamos em cima do teto pó de serra com talco comum, iluminação vermelha e focos amarelos intermitentes para dar uma idéia de explosões, claro que junto com os efeitos sonoros. Começamos a achar que a fumaça resultante do pó de serra com talco, que aparecia com a queda do teto da casamata, estava fraca, não convencia muito. Conversamos com José Xavier da Silva, o famoso Zé Bolinho, nosso maquinista, tentando uma solução para o problema e ele foi taxativo: “Deixe comigo que eu resolvo!”

A metralhadora estava sempre apontando para um lado, porque quando era detonada expelia as cápsulas das balas de festim para detrás do palco e, por isso, nós tínhamos muito cuidado para não mudá-la de posição.

Assim chegamos à cena final de Fim de Jornada naquele dia especial, com teatro lotado de soldados, cabos, sargentos, tenentes, capitães, só gente fardada. Eu fazia o papel de um sargento, espécie de ordenança do comandante, que recebia ordem para ir até lá em cima, no plano elevado, verificar como estava a situação e, ao chegar, era metralhado. Acontece que nesse dia uma tábua do piso do plano superior cedeu juntamente com uma das minhas pernas, que ficou presa e aparecendo na parte de baixo do cenário. Veio a rajada de balas e eu tive que cair morto fora do local marcado. Ao cair, bati na metralhadora que mudou de posição exatamente para o lado contrário. O sentinela desceu para avisar ao comandante e ao subir de volta, antes de também ser morto, passa correndo e pisa na minha mão calçando aquele famoso coturno militar. Ah, dor miserável! Foi quando aconteceu um incrível diálogo entre nós, naturalmente sem ser ouvido pelo público:

- Quando terminar o espetáculo vou lhe lascar, seu merda!

- Eu tive culpa, tive?!...

- Quero saber disso não, seu filho da puta!

- Oxente! E a minha mãe não é a mesma tua?!...

Mas a mambembada não ficou só nisso. Valdez sobe correndo e na posição em que ficara a metralhadora após o meu tropeço, puxa o gatilho. De onde eu estava podia visualizar os militares nos camarotes do Theatro Santa Roza, com as cadeiras na cabeça, para livrarem-se das cápsulas de bala que voavam para cima deles. Então veio o desastre maior: o teto da casamata arreia e provoca uma enorme nuvem de poeira para cima da platéia, que começa a tossir desenfreadamente. Zé Bolinho havia colocado uma porrada de cimento misturado com o pó de serra e o talco. Comentário de um soldado ao sair do Teatro:

- Foi a peça mais realista que eu já vi!


Elpídio Navarro é professor universitário,
dramaturgo e diretor teatral, além de editor
do www.eltheatro.com

quinta-feira, julho 17, 2008

Carnaval fora de Época

José Virgulino de Alencar


A grande pizza do caso Daniel Dantas está sendo preparada na cozinha do Palácio do Planalto, de onde partirá a operação abafa.

Daniel Dantas assusta, e muito, ilustres representantes do comando político nacional e, embora tenham tentado, não conseguiram que a apuração das tramóias de Daniel Dantas parassem num determinado ponto do passado.

E mexer no presente igualmente enlameado, claro, não interessa a quem está atolado até o pescoço no lamaçal.

Como o Brasil tem um eficiente maitre pizzaiolo comandando tudo, nada acontecerá.

É só carnaval fora de época.

quarta-feira, julho 16, 2008

JUSTIÇA X JUSTIÇA



VALDEZ JUVAL
comenta

É tão escandaloso que melhor seria que não se comentasse. Ensinaram-me que o Brasil era tão grande que nunca haveria de cair no abismo mas, pela sequência dos fatos, o tombo não está tão longe.

Todos os dias temos notícias de novas gangues que se organizam e a nossa curiosidade aumenta apenas para sabermos qual a roubalheira que está em evidência. Culpados não existem e se encontrar alguém com a mão na botija, terá sempre uma Justiça que ordenará sua soltura. O que está se provando é que prisão não foi feita para rico Os donos do dinheiro alardeiam logo que têm costa quente no Poder Maior.

E afinal, quem estará com a razão? Vamos prender ou soltar o bandido? Ou o bandido não é bandido por que... bem, prender pode mas... deve-se soltar para que se faça JUSTIÇA. Dá para entender? Também não estou entendendo, mas então, a imprensa é culpada pois está transformando os seus noticiários em capítulos de novela. O difícil é saber quem é o vilão ou quem é o mocinho.

Mais difícil é saber quem é honesto neste País.

A desmoralização é tanta que, com toda a certeza, está atingindo a Justiça do Brasil. Uma verdadeira guerra declarada que faz calar os subordinados que são destituídos, que não podem falar, que não têm o direito de fazer provar que todos são iguais perante a Lei. (É assim que está escrito na Constituição).

Será que isto é Democracia?

terça-feira, julho 15, 2008

O desespero é coisa muito séria e implica desesperança.


MARCUS ARANHA

Waldick Soriano fez muito sucesso com uma composição, “Eu não sou cachorro não”, depois parodiada por Falcão, que lançou” I am not dog no”.

Soriano se dirigia a mulher amada que o maltratava, dizendo que não agüentava mais viver humilhado e que não era cachorro para ser tão desprezado. E encerrava a letra da música com um lamento dramático: “Pelo nosso amor, pelo amor de Deus, eu não sou cachorro, não!” A música de Waldick perdeu o sentido, pois, pra cachorro, os tempos mudaram.

Nesse Brasil, país de contradições, temos milhares de crianças abandonadas e passando fome, às quais pouca atenção se dá. Mas, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Alimentos para Pequenos Animais (ANFAL PET) existem 27,9 milhões de cães em invejável situação de conforto nos lares brasileiros. Com pet food, produtos farmacêuticos, vacinas, embelezamento e acessórios o mercado brasileiro fatura R$16 bilhões! Taí o que se gasta com gato e cachorro. Pra ter uma idéia desse mercado, basta dizer que São Paulo tem 4.000 pet shops.

Essa coisa chegou a ponto inusitado, talvez, revoltante. Diferentemente das nossas crianças miseráveis, cachorro, além de carinho, tem direito a uma excelente e farta alimentação, brinquedos, roupas personalizadas, banhos de beleza tipo ofurô, assistência médica e farmacêutica de qualidade e até consulta com psicólogo.

Sinceramente, eu não me orgulharia em ter um filho especializado em psicologia animal. Nem que ele fosse um verdadeiro Freud de cachorro.

A última notícia desse pedaço em São Paulo (sempre, a paulicéia desvairada) é o motel pra cachorro. Clínicas e petshops adaptam salas com espelhos, cama redonda, paredes pintadas com cores quentes, além de aromatizantes. O espaço tem a finalidade de fazer o cruzamento entre animais, mas visa primordialmente realizar sessões fotográficas com o casal de cães. Veja a loucura: com o álbum de fotos a mão, na sala de visitas, bebericando um uísque, você mostra aos amigos, imagens de seu cão fornicando!

E mais uma extravagância maluca é funeral de luxo pra cachorro. No Clube Pet Memorial (também em São Paulo), por uma taxa que varia entre R$750 a R$1.500, cachorro morto se despede do dono, de banho tomado, pêlo escovado e rodeado de flores frescas. E mais: com direito a rabecão refrigerado, caixão, capela, velório, cremação (se essa for a opção do dono) e urna para cinzas.

Mas quem não deseja cremar seu cão, dispõe do “Jardim do Amigo”, em Itapevi, na Grande São Paulo, o maior cemitério particular de animais, no país. O dono do bicho pode escolher entre seis áreas para enterrar o amiguinho morto; da ala comunitária até um bosque gramado e com lápides de granito ou mármore.

Pois é... Essa loucura já chegou aqui.

Terça feira passada, no caderno Cidades do CORREIO, foi publicado um anúncio; “DUAS CADELINHAS PERDIDAS, DONOS DESESPERADOS”, com descrição, fotos das duas cachorras e oferta de recompensa.

São meus votos que os “donos” dessas cachorrinhas já as tenham encontrado. Mas eles poderiam pensar melhor no que é propalar a todo mundo estar desesperado. O desespero é coisa muito séria e implica desesperança. Poderiam fazer uma visita ao setor pediátrico do Hospital Laureano e ver duas, três, quatro, dez ou mais crianças “perdidas”, com câncer incurável. Os pais dessas sim, têm razão em se dizerem desesperados. O caso de seus filhos não se resolve com anúncio no jornal nem oferta de recompensa. O verdadeiro desespero desses pais é que eles sabem que só contam o pouco poder da medicina e a misericórdia de Deus.

É incompreensível, é demais e não é cristão esse “desespero” público dos donos dessas cadelinhas. Nem São Francisco de Assis, com o amor aos animais que lhe era peculiar, ficaria desesperado por causa de duas cachorras.

Drama de um jovem


José Virgulino de Alencar

(Depoimento do que passei e vivi com as drogas)

Diluída na fumaça soprada no primeiro e inocente trago de um cigarro de maconha, a ilusão e a conseqüente desgraça criada pela droga se instala na mente do jovem e aí começa a caminhada, muitas vezes sem retorno, para um vício que destrói o corpo, a mente, a auto-estima e o próprio prazer de viver do viciado. Vejam o que me causou um desses despretensiosos baseados oferecidos a um filho meu e o drama vivido por nossa família.

Faço parte de um contexto familiar, hoje como lá na minha origem, de formação religiosa, comunitária, baseada no comportamento civilizado, educado, longe de vícios e hábitos contrários à harmonia social. Criado assim, procurei dar esse mesmo exemplo a meus dois filhos, Thália Karenina, casada, arquiteta, exercendo a profissão, e Leopoldo José, estudante universitário do curso de Nutrição, tendo como suporte minha mulher, fiel companheira, Ida Alencar, formada em Administração, hoje aposentada dos quadros do Estado, que soube vivenciar, com base na fé, o terrível problema.

Minha filha fez o curso secundário no Colégio Nossa Senhora de Lourdes(Lurdinas), onde recebeu boa formação e educação. Meu filho estudou no Pio X, onde pensava eu que, pela boa fama do colégio, o tinha colocado a salvo de más influências e dos perigos das drogas.

Ledo engano. O Pio X, mesmo não sendo a origem do problema, foi bastante propício para envolver meu filho com as drogas, ao lado de um expressivo número de jovens de classe média, bem criados. Observei que o educandário religioso não tinha nenhum esquema de fiscalização contra a ação dos agentes do tráfico que se postavam na porta do colégio, seduzindo os jovens. Aliado a outro equívoco de que, morando no Bessa, região considera nobre na capital paraibana, estaria oferecendo ambiente sadio para a família, surpreso descubro que o bairro é infestado de jovens viciados e de traficantes.

Ao ter revelado que meu filho entrara no vício, um baque na emoção foi a primeira reação, de profunda decepção, acompanhada do medo, da insegurança e da impotência diante da situação. Atônito, me fiz a pergunta, de difícil resposta: o que fazer? Ninguém tem a fórmula desenhada para condução do problema, em que pese a infinidade de pessoas, instituições e autoridades nos três níveis de governo que atuam no enfrentamento do potente esquema do tráfico e consumo das drogas.

Empiricamente, optei por uma posição que visava segurar meu filho sob nossas asas, minha e de minha esposa, não o reprimindo, nem o tangendo de nosso convívio, conversando, apelando, tentando abrir para ele caminhos por onde pudesse livrá-lo do mal, atraindo-o para a nossa religião, em cuja Igreja temos uma atuação em várias pastorais, entre as quais a da família, de jovens, alguns também viciados.

Foi um período traumático, amargo, de rebeldia, de ameaça de desagregação da harmonia do lar, de sensação de perda de um membro, do corpo físico e do familiar. Esse período de vivência do problema, com noites indormidas, acidentes assustadores e a incerteza do futuro, dá um livro e requer muito espaço e papel. Foi longo, intragável, indigesto.

Pulo, então, para a etapa seguinte, quando, por circunstâncias que só Deus pode explicar, meu filho saiu, e saiu em definitivo, do vício, por convicção própria, por força íntima, sendo hoje um jovem normal, bom aluno na sua futura profissão, cuidadoso com a saúde e a mente, vivendo junto a nós, participando de nosso trabalho na Igreja.

E a busca pela religião não foi como fuga ou esconderijo para escapar das tentações, mas decisão pessoal tomada para caminhar pelo curso normal da vida, onde faz palestras e dá depoimentos, de forma aberta e sem constrangimentos, para jovens e até para casais. Conta ele que, do ilusório prazer inicial, entra-se num estado em que o vício domina, mas não tira a consciência de que está sofrendo, de onde tenta sair e as dificuldades são muitas e inexplicáveis. Ele também sentiu, como nós, dores, angústias, medos e incertezas.

A passagem para o outro lado do muro foi firme, está consolidada, reintegrado na família que vive atualmente um clima de tranqüilidade, de harmonia, de paz, o que me permite falar sem receios sobre o delicado assunto, que me manteve por um bom tempo trancado e silente, no trabalho profissional, na vida religiosa, na vivência social.

O fato chegou a perturbar até essa outra faceta da minha vida, a da comunicação, da literatura, de escrever, de expor e discutir idéias, no mais amplo sentido do conhecimento humanístico. Sou um apaixonado pela palavra, um consumidor voraz do texto que expõe uma idéia, ainda que vá de encontro à minha forma pessoal de pensar e ver as coisas, um apreciador da criação artística. Mas passei essa época lendo e escrevendo pouco, com uma incômoda desmotivação.

Vivi o fato e não aprendi a lidar com ele. Nem sei que contribuição pessoal tenha dado para meu filho mudar. Forças supervenientes me ajudaram e ajudaram meu filho. Explicações convincentes sobre o abominável tema confesso que não tenho e nem quero ter.

Apenas e simplesmente desejo que amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos, enfim ninguém, passem por esse túnel escuro, assombroso, apavorante, pela infelicidade de ter um ente querido metido nessa coisa que começa no inocente trago de um pequeno cigarro de maconha, abrindo um fosso enorme no seio da família e da própria sociedade.

Como uma verdadeira seqüela do fato, se alguém quer me ver doente e fora do sério, fale perto de mim em legalizar a droga. Se ouvir poucas e boas, não estranhe, porque é uma reação espontânea e automática de repulsa a uma coisa que pegou na veia, mexeu nos nervos e bateu forte na emoção.

Passou, mas a revolta ficou. Não com meu filho, a quem eu, minha esposa e toda a família não deixamos de dedicar todo o afeto. A ira se volta contra o criminoso esquema do tráfico, da distribuição da droga e do vício, pela porta insidiosa da sedução dos jovens.

Nesse combate, sou um soldado, raso mas disposto a participar da luta para limpar o mundo dessa sujeira. Não é fácil, mas vale a pena tentar.

segunda-feira, julho 14, 2008

SOCORRO! OS PEZINHOS DO NADO SINCRONIZADO VÊM AÍ!


Geneton Moraes Neto

Socorro ! Tirem as crianças da sala ! Tranquem as portas ! Contratem seguranças particulares !

Motivo: as Olimpíadas vêm aí. Com elas, duas desgraças que assolam nossos olhos e ouvidos de quatro em quatro anos: o festival de subliteratura que jorra dos vídeos e dos páginas em reportagens sobre "superação". Haja textinho pauperriminho descrevendo a saguinha de menininho pobrinho que andava cinquentinha quilômetros para treinar para a maratona. Como diria Jaqueline Kennedy ao recolher os miolos do marido estilhaçados pelas balas de Lee Oswald em Dallas: "Oh, no!".

O mais assustador : o espetáculo do nado sincronizado. Ah, Nossa Senhora do Espanho: o que é que faz seres bípedes, mamíferos, supostamente cerebrados, ficarem de cabeça para baixo dentro de uma piscina enquanto movem os pés sincronicamente diante dos olhos atônitos do planeta ?

Se crianças inocentes e desprevenidas pousarem os olhos na TV justamente neste momento, o que é que pensarão sobre a espécie humana ? Por que fazê-las carregar , pelo resto de seus dias, traumas de que jamais se livrarão ? Quantos mil reais os pais terão de gastar, depois, com psicólogos que serão convocados para a vã tarefa de trazê-las de volta à sanidade ? O prejuízo, para os cofres privados e também para os públicos, é "inestimável".

Os riscos a que se expõem os espectadores das competições de nado sincronizado são,portanto, gravíssimos.

Prefiro um bom filme do velho e infalível Fred Kruger.

É mais divertido.

E menos assustador.

Pior do que assistir a um espetáculo de nado sincronizado, só há uma cena : ver um jornalista pontificando sobre o que é que interessa e o que é que não interessa ao distinto público.

É triste mas é de matar de rir.

Eu mesmo dou dez voltas na tumba, a cada vez que testemunho uma cena dessas.

A vida pode ser engraçada. Quem disse que não ?

sábado, julho 12, 2008

ESTAÇÃO CIÊNCIA: INICIATIVA CERTA EM LOCAL ERRADO!!!


Breno Grisi (ecólogo)

Quem sou eu para não apoiar uma iniciativa pró-ciência?! Na juventude, eu procurava conhecer tudo sobre ciência que me chegasse ao alcance dos olhos e ouvidos (filmes e notícias de rádio e um pouquinho mais tarde, pela TV) e ao alcance do bolso (até em Seleções do Reader’s Digest!); e algumas vezes filava leituras nas revistas americanas Times e Newsweek. Optei na graduação e pós-graduação em buscar conhecimentos em ecologia. O governo brasileiro, mais precisamente, o povo brasileiro, investiu muito recurso na minha formação científica, feita no sul do Brasil e no exterior. Ciência, tornou-se a essência da minha atividade profissional. Somente no doutorado, já com 35 anos de idade, pude conhecer um local onde se vê, se sente, se vive um ambiente científico, disponível à visitação pública (um sonho em minha juventude!); foi nos Museu Britânico e Museu de História Natural, ambos em Londres.

Sempre tive a consciência de que era meu dever proporcionar retôrno à sociedade; pesquisando sobre nossos ambientes, ensinando e participando da formação de bons profissionais e, desejavelmente, participando de ações em questões ambientais relevantes. Mas, entre o que deveria ser feito e o que é realizado de fato, existe o nó górdio: governantes e políticos. Os desencontros foram tantos, que desisti de continuar realizando estudos de impactos ambientais, onde no final, eu somente servia para legitimar as ações desejadas pelos empreendedores! Muitas delas maléficas à Natureza. Mas sempre continuei à disposição para discutir ações que governos intencionassem perpetrar. Aliás, é um direito de qualquer cidadão participar de discussões sobre projetos em sua cidade.

Disso tudo, tiro algumas conclusões práticas sobre a implantação e construção de uma Estação Ciência, aqui em João Pessoa. LOUVÁVEL a iniciativa de uma obra desse porte. REPROVÁVEL o local específico escolhido para sua construção. Não me compete discutir aspectos relativos à prioridade (ou não) de cunho sócio-econômico, custo-benefício e outros... A falésia do Cabo Branco, da formação Barreiras (costeira, terciária), de arenitos friáveis, caracteriza-se como área que, num critério ecológico passível de interferência humana receberia um sinal “vermelho”: nenhuma interferência humana deve aí ocorrer. Até algumas dezenas de metros adentrando o continente, o sinal seria “amarelo”: não é aconselhável interferência. Somente após os 100 m surgiria o sinal “verde”: apropriado a alguns tipos de interferência. O local onde foi construída a Estação Ciência situa-se na interface “vermelho-amarelo”, local este que encanta governantes e atrai turistas. Este último, infelizmente, critério prioritário de julgamento. Acrescentem-se nas interferências, as vias de acesso e o movimento para ali atraído. Alguns efeitos negativos: trepidação, aumento de fluxo de água pluvial e sua condução nem sempre perfeita, subtração de vegetação natural (redutora de impactos e fixadora do solo). Não me compete discutir aspectos relativos à prioridade (ou não) de cunho sócio-econômico, custo-benefício e outros...Nem tampouco sobre a exposição do equipamento ali instalado aos efeitos dos aerossóis marinhos (os borrifos, a maresia), pela grande proximidade à linha costeira e ausência de vegetação protetora (a restinga).

Há mais de duas décadas que observo e fotografo a falésia do Cabo Branco, que dizem estar sendo destruída peolo avanço do mar. Ledo engano! Há sinais de que a destruição vem ocorrendo de cima p’ra baixo! No sopé da barreira, atingida pelo mar, a Natureza se recompõe. Se dermos “uma mãozinha” a esse fenômeno natural, a falésia será preservada. Mas no topo dela, o homem vem comprometendo sua sustentação. Fotos que divulgo no www.ecologiaemfoco.blogspot.com ilustram tais fatos. Ou serão só argumentos?!

De qualquer forma, é uma lástima que no nosso meio, iniciativa tão relevante não seja precedida por discussão de mesmo porte!!!

terça-feira, julho 08, 2008

PELO AMOR DE DEUS, "UM ÓCULOS" NÃO!


Geneton Moraes Neto

Lá vinha eu, entretido com o noticiário da rádio, quando, sem aviso prévio, a locutora (ou "âncora") começa a falar sobre o roubo dos óculos da estátua de Carlos Drummond de Andrade.

Aos forasteiros, diga-se, aliás, que o Rio de Janeiro é a única cidade do mundo em que se roubam óculos de estátuas....

Quando começa a comentar o ocorrido, a âncora da emissora de rádio fala de "um óculos". Depois, repete a barbaridade duas, três, quatro vezes: "Um óculos....".

Deus do céu: fico pensando que profissão é esta, o Jornalismo, em que um ser humano passa quatro anos na faculdade e sai pelo planeta dizendo "um óculos".

Lástima: gente que não sabe diferenciar um plural de um singular acha-se perfeitamente preparada para transmitir a nós, ouvintes otários, as notícias do mundo.

Comigo não, violão.

Desligo o rádio.

Passo a relinchar alegremente. O ruído do relincho faz menos mal aos ouvidos do que alguém dizendo "um óculos".

Gente que não deve nada à língua, como cantores de pagode, zagueiros centrais, celebridades que posam para a Caras, pode até dizer "um óculos" impunemente. E certamente diz, satisfeita com a própria ignorância.

Mas jornalista que fala - e escreve - para o público não pode cometer tais barbaridades.

É simples assim: não pode. Porque a língua é o instrumento de trabalho de quem escreve. Não pode nem deve ser pisoteada publicamente por quem, em tese, teria a obrigação de zelar por ela.

O rádio continuará desligado.

Estação de um novo tempo


Germano Romero

Ao ouvir o Hino Nacional na inauguração da Estação Cabo Branco, "bons orgulhos" aterrissaram à minha cabeça. Era decerto uma honrosa data. Primeiro, o orgulho profissional, constatando que Arquitetura é a arte mais grandiosa e marcante. É nela que se registra da forma mais ampla possível as características, o estilo de vida, a história e o pensamento humano de uma época. Além de ter o condão de ser acessível a todos, de não estar enfeixada em livros, partituras, bibliotecas, museus ou qualquer tipo de arquivamento, a Arquitetura é arte que se mostra por inteiro, dia e noite, ao sol e à lua, ao rico e ao pobre. E que, além de distribuir beleza, abriga o homem e suas atividades de forma prática, funcional e prazerosa.

E foi com a Arquitetura que Ricardo Coutinho resolveu marcar sua administração, que para os paraibanos já é histórica. Não obstante ele fazer questão de dizer, com absoluta sinceridade, que "construir 10 mil casas é uma epopéia ainda maior e mais significativa", igualmente concebida pela Arquitetura.

E ao som do Hino, que também nos trouxe o orgulho nato de brasileiro, subi àquela "nave do planalto" – como disse Carlos Romero – e alcei vôo levitando por cima da Ponta do Cabo Branco, vislumbrando a bela enseada, quando veio o terceiro orgulho: de ser paraibano. Aí pensei: como é bonita nossa terra!...

Neste momento, a Orquestra da Cidade dobrava o Sublime Torrão de Genival Macedo, e me fez aterrissar de volta ao planalto os orgulhosos devaneios.

Parece que o terceiro orgulho foi o que mais tocou. A Capital das Acácias tem agora uma obra prima da Arquitetura na crista da mais protuberante aresta continental de seu lado nascente. Uma obra assinada por um gênio que semeou talento pelo planeta inteiro, fazendo-nos figurar na lista mundial de cidades contempladas com sua marca, ao lado de Constantine, Havre, Paris, Milão, Nova York, Caracas, Londres, Avilés, entre outras.

E esta marca não tem um significado apenas turístico, arquitetônico, histórico, mas, de uma nova era vivida pelos paraibanos, que há muito não viam obras desse porte serem inauguradas por aqui. Vítima da descontinuidade oriunda das desavenças mesquinhas de uma política egoísta e vaidosa, que se desacostumou a dar prioridade aos anseios e necessidades do povo, a Paraíba ressurge com forças e idéias novas. Quiçá consigamos pelo menos sair do atraso e deixar de ver crescer somente as vizinhas Natal, Maceió, Fortaleza.

Tudo indica que a Estação Cabo Branco pousou na ponta de terra sobre o mar não somente como monumento que trará para perto do povo lições de Ciência, Arte e Cultura. Quando o sol de todas as manhãs, que ali chega primeiro, desnudar a Estação e der luz à sua beleza emoldurada pelo verde da mata que a envolve, fulgurará a mensagem de que começamos a viver um novo tempo. Um tempo em que um pedreiro vai ao pódio discursar sobre a obra inaugurada, que ajudou a erguer.

quinta-feira, julho 03, 2008

VALDEZ JUVAL, Comenta


Valdez Juval

Já tive oportunidade de escrever sobre o assunto (opinião). Desta vez resolvo também opinar, ou melhor, comentar. Respeitando sempre o que se quer dizer e admitindo a verdade nas palavras de quem diz, não irei contrariar o conteúdo de qualquer ponto de vista. Falarei por mim, exclusivamente, sem, inclusive, querer influenciar no contexto do que está escrito ou divulgado, lido e interpretado.


2 – E A VENEZUELA VENCEU!
Confesso que nem assisti o 2º tempo do jogo (estive mais interessado em um filme e preferi acompanhar o seu final) portanto não vou falar sobre o assunto, MAS, não custa parabenizar um time que conquista a sua primeira vitória sobre o futebol Brasileiro. Antes assim que um regime de governo.


3 – A SERPENTE ALADA.
Reportei-me há muitos anos passados ao ler hoje o salmo 137: “Junto aos rios da Babilônia, nos sentávamos chorando, com saudade de Sião. Nos salgueiros por ali penduramos nossas harpas” Naquela época, tinha em mãos a peça em um ato de Vanildo Brito, “A SERPENTE ALADA”. Era meu desejo interpretá-la ou dirigi-la, porém, razão que não recordo agora, não aconteceu. O fato me fez lembrar neste instante, o autor, amigo e colega. Grande figura, intelectual de primeira grandeza, inteligência rara, orgulho da pequena Paraíba. Não tenho notícias dele. Vivo ou morto, minhas saudades.


4 – QUEM JÁ MORREU DE ARREPENDIMENTO?
Não me conformei com a expressão “Acontece que arrependimento mata...” escrita recentemente por Paulo Coêlho, embora justifique que assim ocorrerá “se não procurarmos consertar o mal que fizemos.” Confundiu-se, ”data venia”, o nobre autor, quando, ele próprio já fala no primeiro período do texto que “Todo mundo conhece uma velha expressão popular – se arrependimento matasse... - Se, caro amigo, se. O coração do homem não pararia de bater por estar arrependido. Desculpe a nossa ousadia. É uma questão de opinião.


5 – TODOS OS CANDIDATOS FORAM ELEITOS.
Eleição municipal na comarca que trabalhei como Promotor de Justiça. A dificuldade foi mais quando, na convenção do único partido não se conseguia o número suficiente para preenchimento da Câmara. Apelação para todos os lados até que sete pessoas seriam candidatas a vereador do município. E o que se tornou mais hilariante: um deles, marido da escrivã, resolveu mandar imprimir cartaz com sua fotografia e fazer santinhos que distribuiu pela cidade. Na apuração, o que tinha de voto em branco e nulo não foi pouca coisa e o principal e único candidato que fez divulgação da campanha, obteve apenas um voto. Como sua família se explicou para ele, não tomei conhecimento. Mas o fato é verídico.